Primeiro dia - demolições

dia-a-dia: demolições

Cheguei às onze, duas horas depois do combinado. Ainda agora, já de noite, não consigo entender bem o que senti quando cheguei, nem tão pouco o que sinto agora. O património existente acabou. O castiço, o dramaticamente belo, fazem parte do passado. A cada momento relembro mais uma parte que cedeu sob o peso da pá da retroescavadora. O menir junto à porta, lembro agora. As pedras sobre a lareira. As toiças e as ombreiras, algures sob a escombreira. Apenas a laje da lareira, à qual sempre liguei pouco, sobrou como marco do que existiu.

Algures atrás do monte de escombros descobri também uma fímbria de luz. Não é trágico, isto. O projeto avança desde dois mil e quatro. São sete anos de progresso lento, numa vida de arquiteto sem obra feita. De repente, uma escombreira sem forma nem beleza aparente transformou-se num bolo num forno. Sem forma nem beleza, mas a acontecer.

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