Décimo terceiro e décimo quarto dias - lanceta

dia-a-dia: (paguei ao senhor um café pela espera)

Ontem fui ver das pedras. O Mauro é acessível e competente, e já me arrependi de lhe ter respondido uma vez de jeito mais áspero. Pacientemente e pedra a pedra (com a ajuda dum lápis de cor vermelha e a prestimosa faca-aguça) lá ia explicando aos homens os cortes a fazer e como a ombreira iria assim encaixar na toiça. Como um puzzle, tentei eu. O Mauro anuiu, com um olhar. Os homens também parecem perceber. Ainda não estou certo quanto à pedra, assim como ainda não estou certo de quase nada. Ou vejo ainda muita coisa incerta, não sei bem.

Hoje insisti com os homens o isto e aquilo da parede. Umas dizem que sim, outras dizem que não, outras calam-se. Pedi ao Paulo para vir comigo procurar a chave da arrecadação onde o meu avô fazia o mel (entretanto descobrimos a janela, apenas encostada). Haveria lá ferramentas e possivelmente serras para me ajudar nas podas. Entrando na cozinha da casa do meu avô com a ideia de encontrar uma chave, os olhos curiosos do Paulo deram com o que parecia ser uma chave com estojo de couro, ficando apenas o cabo à vista. Chegámo-nos à luz para ver melhor. A parte escondida pelo couro era uma lâmina, redonda como nunca tinha visto. Inquiri junto dos velhos o que aquilo era e todos concordavam, não sem uma interjeição e um sorriso, que aquilo era uma faca de capar porcas. Porcas? Sim, porcas, então você não sabe o que é uma porca? Depois de elas terem estado prenhas e com os porcos ninhos era preciso capá-las para não andarem a vadiar e a meterem-se com os porcos. O seu avô quando veio de África ainda capou muitos leitões. Uma faca para capar porcas e leitões. Seria lanceta, indagava-se a Alcina sobre o nome da faca. O Amílcar fez questão de me mostrar como se segurava a 'lanceta', com os dedos em V para vasculhar os vazios da porca. Fica a fotografia.

lanceta, arma temível

Matei um tarrote e uma andorinha. Um sardão escapou por isto (gesto característico com os dedos). A natureza tem esta tendência curiosa de se enfiar no espaço entre a roda e o pára-lamas do meu carro.

diabos me levem se isto não é uma parede de pedra

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