Quinquagésimo terceiro dia - pinhal

dia-a-dia: ainda o telhado
Já não sei a quantos marcos ia e olhei as mãos. A direita, principalmente. Vermelha, um pouco inchada, listrada de riscos brancos de roçar nos pinheiros e de arrancar estevas. A cena não era bonita, começava a esfriar e ainda queria ver mais marcos, mas a sensação de estar vivo e de isso fazer todo o  sentido sobrepôs-se a tudo o resto.

Isto ao fim da tarde. Depois de o empreiteiro ir embora, pelas três e meia, e segui pinhal adentro, munido apenas do gio e da serra de podas, não fosse surgir-me à frente algum pinheiro mal encarado. Do gio servia-me o gps, para que, quando achasse um marco, registasse as suas coordenadas. O pinhal pareceu-me maior do que quando lá fui com o tio Silvério, o que também pode ser erro meu. Os marcos são poucos e difíceis de detetar. Posso também ter andado a mapear marcos que não são meus.

Antes de ir para o pinhal acabei a poda das roseiras e, com um alicate pedido ao Amílcar, arranquei a rede que separava o pátio do quintal, onde as roseiras se enfiavam. Dei por concluída o arranjo preliminar do pátio, que já durava há meses. Fiquei contente.

Antes andei sobre o telhado com o empreiteiro, a colocar a caleira, que veio imperfeita. Tivemos de cortá-la com a rebarbadeira de maneira a ajustá-la ao lugar, dobrar pequenas peças para fechar os cantos. E ainda ficou a faltar a 'cola e veda', para fechar uns buracos. Estou um pouco renitente quanto à impermeabilização, mas logo se vê como fica quando rematarmos. O empreiteiro ficou confiante.

Antes ainda, durante a manhã, andou a retro pela obra. O condutor continua na sua insanidade habitual, e temos nós de nos desviarmos para não sermos comidos pelo bicho. Levantou-se parte do entulho que restava no terreno, arrancaram-se os cepos de parte das árvores que morreram, retirou-se o tanque de tijolo, tapou-se parte da fossa e das caixas de visita. No meio do rebuliço, tão atarantado estava eu, andava a apanhar pedaços de telha, de tijolo e de betão para os esconder debaixo da terra, que atirei uma inocente telhinha para longe, na esperança de poupar trabalho e mostrar serviço. O raio da telha, já nada inocente, foi cair mesmo em cima dum dos canos de saneamento, esfarrapando-o. Fiquei revoltado comigo mesmo. Faço mais asneiras que os homens da obra.

Dei vinte euros ao homem da máquina para abrir uma rampa para o campo onde tenho as amendoeiras. Pediram-me parentes que fizesse isso, para acederem a campos longe da estrada. A abertura de caboucos para plantar as cerejeiras ficou adiado, a máquina não passava entre as amendoeiras.

Os velhos só se queixam da falta de chuva. Dizem que sem chuva a amendoeira não deita flor, e assim não há fruto. Mais penúria.

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