Quinquagésimo quinto dia - chuva

dia-a-dia: ao fim da manhã
Depois do almoço tivemos uma reunião informal de trabalho. Digo isto desta maneira porque foi o que aconteceu, apesar de eu não a ter convocado nem concordar de maneira alguma com a ideia. Chamaram-me os pedreiros para me dizer que o muro da entrada era bem era baixinho, para que as pessoas pudessem olhar lá para dentro. Entretanto chegaram-se os velhos. Ora eu tenho uma relação de amor com este muro, mais alto que uma pessoa, que sobreviveu à fúria da máquina, destrambelhado, a aparentar queda mas ainda capaz de mais umas décadas de vida. Tinha-lhes pedido que arranjassem o topo, calçassem algumas das pedras e fechassem a brecha que sobrou entre o muro e a casa. O coro que me rodeava aumentou, cada um à sua vez, os velhos concordavam, que haviam era de acertar o muro pela pedra do portão, não mais que metro e oitenta, assim já entrava o sol, ficava mais bonito, já não tapava a casa, etc. Reafirmei-lhes que nada disso, a minha intenção era exatamente a contrária, resguardar o espaço interior para os turistas, a vista é para baixo, não é para a estrada, mas nada. Continuavam a insistir. A custo, tive de interromper a discussão, de forma pouquíssimo democrática. Não estudei dezoito anos para agora não ter autonomia para decidir, a decisão já estava tomada, já chega de reunião, e essa coisas. Continuo a achar que lhes dou confiança a mais, mas também não sei fazer de outra maneira. 

Entretanto, o muro de baixo ficou bonito de se ver. Antes de ir embora preparei mais quatro varas para marcar o pinhal, a recomeçar na próxima semana, já com o tio Silvério.

super-muro
Ia falando (tema de conversa de sempre) sobre a chuva que tardava, ao que os homens me disseram, ontem choveu umas pinguitas, lá para a uma da manhã. Coisa pequena, nem se notava no chão. E o milagre aconteceu. Não sei de da minha imaginação, não sei de quê, mas ao longo da manhã começou tudo a florir. O que era uma ou duas amendoeiras floridas ao longe passou a campos inteiros de flores a surgir. Para a semana aterro no paraíso.

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