Nonagésimo primeiro dia - penúltimo marco


Mais sono que discernimento e cruza-se uma raposa à frente do carro. Durante o dia, a sem-vergonha.

Cheguei já os carpinteiros se atarefavam. Com a obra tão avançada já pouco queda por fazer. Verifiquei se o trabalho dos pedreiros estava feito - a picagem do chão das casas de banho, as pedras tiradas do quintal. Tudo feito. Os carpinteiros lá iam descarregando o mdf, também a banca de pedra do Poio. Começava a azáfama de colocar as réguas na parede de acordo com o desenho. As impoderáveis são tantas que só profissionais capazes e um bom acompanhamento garantem bons resultados finais.

 primeira régua, sempre a mais complicada
(foto)

Já depois do almoço dei na cabeça do carpinteiro mais novo. As réguas cortadas por ele ficavam lascadas, enquanto que as cortadas pelo patrão estavam perfeitas. Tu não vês que o mdf fode os discos? Então desde a manhã para a tarde? Ah pois é. Afinal não era nada. Confrontando com o trabalho da tarde dele e do outro carpinteiro, logo percebemos que o disco era desculpa para a falta de jeito. O calo ganha-se. Parte das coisas podia fazê-las a dormir, dizia o Carlos.

o Bruno, fantasma
(foto)

Voltei agora do pinhal. Em jeito glorioso, um pouco antes de voltar, decidi cortar pelo matagal, de baixo para cima, orientando-me com a segurança da fronteira entre o meu prédio e o vizinho, claro mais abaixo, impercetível em cima. Queria perceber se a desmatação a que me tinha dedicado era fora ou dentro do meu prédio. Percebi que estava a desmatar no limite, por isso vou continuar apenas para a esquerda. Imbuído da genica que nunca me falta no meio do monte, continuei na linha reta imaginária para o outro lado do caminho, onde me asseguraram existir uma nesga de pinhal que me pertence. Já tinha avançado imensas vezes para lá do caminho mas nunca achara os marcos certos, mas outros marcos, de outros prédios. E hoje, a poucos metros de onde tenho trabalhado, lá estava o malfadado marco, dois na realidade, a marcar o remate do meu prédio. Foi bom de ver.

O Zé Manel chegou agora de regar. As tardes longas dão para muita coisa. Na orelha traz um ramito. Digo-lhe. Isto? É para afugentar as moscas. As moscas? Esta hortelã cresce lá em baixo na ribeira, e tendo isto já as moscas não se chegam.

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