Centésimo vigésimo quarto e centésimo vigésimo quinto dias - floribella

Perdi a noção dos dias, das horas, do trabalho. Ontem, exausto, fui incapaz de escrever o diário. Fui direto para a cama. Talvez por causa disso, talvez por os dias serem todos iguais, hoje não tinha noção do trabalho que tinha feito. Pô, eu fiz isso tudo hoje? Afinal, fiz mesmo.

Começando por ontem, o carpinteiro começou o armário entre a sala e a cozinha, e logo me assustou. Quando, depois do almoço, chegou o patrão com as caixas para o armário, as medidas não batiam certo certo e o carpinteiro, isto assim não dá, então não sabiam medir bem as coisas, a conversa do costume. Deixei-o falar, o dia foi avançando e tudo se compôs. Muito mal não estaria. Ficou a face do armário virada para a sala quase acabada.

armário a caminho

No barro, acabei a primeira camada do quarto de cima e com o barro que sobrou fiz uma parte do quarto de baixo. O barro começa-me a parecer pouco. Ao fim do dia ainda fiz duas filas da segunda camada no quarto de cima (nota mental: já é tempo de os quartos terem nome).

Hoje custou-me a levantar. Na obra já o carpinteiro se azafamava, sequioso de continuar o trabalho. Em pouco tempo acabou a face da sala, e quando se preparava para fazer o mesmo na face virada para a cozinha, pedi-lhe para abrandar. Se ele fechasse tudo os eletricistas não podiam fazer as ligações. Contrariado, e depois de muito rabujar, lá se virou às escadas, autêntico jogo de construção infantil.

armário a caminho

o escadório a meio caminho

No campo do barro, e ainda para mais num dia com novidades, telefonemas, ida a Freixo e acompanhamento do trabalho do carpinteiro, fiquei surpreendido ao ver que tinha feito mais de um terço da segunda camada de barro do quarto de cima. De facto, o trabalho só não anda quando se está parado. Mesmo em dias maus como o de hoje, se levarmos o trabalho cadenciado e ligeirinho o resultado surge, brilhante.

quarto de cima

Quando estão para bater as onze começo a cheirar, como os cachorros, a ver se encontro as senhoras. Vejo-as ao longe, chego-me perto para as cumprimentar, e faço o que posso para que me convidem para almoçar. Hoje de manhã a tia Alcina lá vinha, toda curvadinha, da apanha da amêndoa. Vinha cansada, não ia fazer nada de especial para comer, ao que lhe respondi que não se preocupasse comigo, que tinha o que comer. Deve ter percebido tudo ao contrário porque pouco depois apareceu-me com um saco com um ovo cozido, um naco de pão e um chouriço, e pediu-me sigilo, com medo da reação do marido. A irmã, talvez para não ficar atrás, trouxe-me três pepinos e seis ovos ao final da tarde, para uma omolete, para além dos seis abrunhos que me trouxera antes. Com tão pouco, senti-me rico. Como a Floribella.

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